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Programa de Memória dos Movimentos Sociais
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Alfredo Wagner

O antropólogo Alfredo Wagner de Almeida (UFAM) destaca que um dos aspectos que diferenciam os relatos feitos pelos expositores da mesa é o tempo histórico dos dados (anterior ou posterior à Constituinte de 1988), considerando que, no caso apresentado pelo antropólogo João Pacheco de Oliveira Filho, as informações sobre o “Massacre do Capacete” emergiram no interior de uma etnografia sobre os Tikuna colada à própria estratégia dos movimentos indígenas. A partir do relato da antropóloga Iara Ferraz, analisa o modo pelo qual os Suruí, utilizados pelos militares na Guerrilha do Araguaia, são impelidos a uma ação sem saber o porquê: “Quando você é impelido involuntariamente a provocar um ato (...), você perde a sua condição de sujeito. E a ideia do autoritarismo, da ditadura, é justamente roubar a sua condição de sujeito, impedir o encontro com a consciência de si mesmo”. Nas pesquisas sobre o tema, de forma geral, Alfredo Wagner aponta dificuldades na construção de uma série histórica. “Temos dificuldades de constituir cruzamentos quantitativos com eficácia elevada para informar de maneira precisa: quantos são, quais são os indígenas punidos, sacrificados”. A seu ver, uma dificuldade inerente às condições próprias dos massacres, dos genocídios, é justamente o desaparecimento das provas circunstanciais. No enfrentamento desses problemas, avalia que não basta o pesquisador estudar o indígena sofrendo a ação: “É preciso estudar também a ação que está em jogo, porque mesmo o massacre é uma forma de relação com um programa governamental”.

Testemunhos

O dossiê "Testemunhos" contém os vídeos das duas sessões de testemunhos de filhos de trabalhadores e dirigentes políticos perseguidos durante o regime militar no Brasil: Tatiana Roque, Adriana e Fábio Cardoso.

Adriana e Fábio Cardoso

Adriana e Fábio Cardoso, filhos do ex-dirigente metalúrgico José Domingos Cardoso, conhecido como “Ferreirinha”, e da também militante política Maria Irony Bezerra Cardoso, narram as perseguições políticas sofridas pelos pais nas décadas de 1960 e 1970, quando ambos eram dirigentes da Juventude Operária Católica (JOC) no Rio de Janeiro. Maria Irony estava grávida quando foi presa e torturada por agentes da repressão, tendo permanecido na prisão entre abril e dezembro de 1970. Naquele período, Ferreirinha vivia na clandestinidade. Adriana nasceu poucas semanas após a libertação da mãe, em janeiro de 1971. Fábio nasceu no período do exílio, em 1973. Adriana e Fábio relembram cenas da infância, quando a casa da família no exterior era frequentada por amigos de vários lugares do mundo, muitos deles também exilados. Eles analisam o contexto das lutas travadas pelos militantes no período, sob a intensa perseguição dos órgãos de repressão. Ferreirinha, Maria Irony e os filhos voltaram ao Brasil com a abertura política de 1979 e desempenharam papel destacado na organização do PT e da CUT e em outros movimentos sociais.

Tatiana Roque

Tatiana Roque, professora da UFRJ, oferece seu depoimento como filha do professor também da UFRJ, Lincoln Bicalho Roque, assassinado pela ditadura militar em março de 1973. Tatiana Roque conta como em 1992 entrou com um processo judicial, no qual responsabiliza o Estado Brasileiro pelo assassinato de seu pai em condições de tortura na sede do DOI-COD. Tatiana Roque conta também como foi difícil, nesse processo, encontrar provas de que Lincoln Roque foi professor vinculado à UFRJ devido à problemas, dificuldades e desaparecimento dos documentos da Universidade, também consequência de um trabalho do próprio Regime Militar.

Programação do evento

No dia 1º de abril de 2014, o golpe militar de 1964 completava 50 anos. Para relembrar os acontecimentos que se seguiram durante os anos do regime militar, como também para provocar novas reflexões sobre os projetos políticos interrompidos pelos anos de repressão, o Colégio Brasileiro de Altos Estudos/UFRJ e o Programa de Memória dos Movimentos Sociais (Memov) promoveram o evento “Projetos interrompidos: repercussões da ditadura sobre a universidade, os trabalhadores e os povos indígenas”.

Cartaz do evento

Cartaz do evento. Contém o cronograma com os debatedores e palestrantes das mesas e os testemunhos, bem como os organizadores.

Trabalho memorial e favelas em tempos de ditadura

As falas registradas no evento destacaram como a valorização da memória consiste num elemento fundamental para a capacidade de resistência dessas populações contra as diversas formas de violação de seus direitos. Consideram que a repressão vivenciada pela população das favelas não se restringe ao período da ditadura civil-militar (1964-1985): mesmo depois da redemocratização, persistem as “ditadura da polícia”, “ditadura do tráfico”, “ditadura da milícia”. Além de três mesas de debates, completam a programação a exibição do filme “Remoção” de Luiz Antônio Pilar e Anderson Quack (CUFA) e a exposição “Varal de Lembranças”.

Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE)

As três ditaduras

Mediada por Lygia Segala (UFF), a mesa composta por Adair Rocha (UERJ, PUC-RJ), Adriana Facina (PPGAS/MN/UFRJ), Antônio Carlos Firmino (Museu Sankofa da Rocinha), Edison Diniz (Rede de Desenvolvimento da Maré), José Martins de Oliveira (Rocinha sem Fronteiras) e Mônica Francisco (Assessoria & Planejamento para o Desenvolvimento – ASPLANDE do Borel) abordaram as diversas formas de repressão presentes no cotidiano das favelas, mesmo depois da redemocratização nos anos 1980. Além disso, refletiu como o trabalho da memória enquanto afirmação da identidade da população das favelas foi considerado uma estratégia importante para a resistência a esses processos repressivos. Sobre as políticas de pacificação, as falas tenderam a rechaçar um discurso maniqueísta sobre os desdobramentos dessas ações. Reconheceram pequenos avanços, mas que ficaram eclipsados pelas formas de militarização do cotidiano das favelas.

Adair Rocha

Adair Rocha falou da importância de integrar a favela à cidade através de uma maior abrangência do acesso a políticas públicas. Mencionou a emergência da ideia de "cidade periférica" que tende a romper com o mito do "morador de favela marginal" levantando questões sobre o papel da polícia nesse processo.

Adriana Facina

Adriana Facina (PPGAS/UFRJ) destaca como a sobrevivência da ditadura nas favelas significou uma derrota para os movimentos que lutaram pela democracia. Afirma também que o jogo político tende a ser visto como algo fora do alcance da população favelada: o discurso oscila entre o “Estado ausente” e o Estado como inimigo.

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