O debate contou com a participação de um dos ex-presidentes do CONSEA, Chico Menezes, e também de José Ricardo Ramalho, José Sergio Leite Lopes e outros presentes.
No debate foram traçadas comparações entre a construção do Estado de Bem-Estar Social na Inglaterra e em países da América Latina, em especial no Brasil. Enquanto na Inglaterra a social-democracia construiu avanços estruturais e a imagem de “primeiro mundo” desde o pós-guerra, além de ter uma tradição forte da classe operária, nos países latino-americanos a repressão predominou com os regimes militares, impondo obstáculos à democracia e à percepção popular dos direitos sociais (como o sistema público de saúde). Foi apontada ainda a eficiência da propaganda estatal na disputa de hegemonia, o que no Brasil foi dificultado pela dominação de meios de comunicação privados. Assinalou-se a importância de se indagar o que permitiu a produção do apagamento e da despolitização dos avanços sociais conquistados e a vitória de Thatcher em 1979. Fazendo um paralelo com a situação recente do Brasil, se pode perguntar como o conservadorismo liberal conseguiu capturar os imaginários, anseios e desejos transversais da sociedade? Ao lado disso, foi destacado que “O Espírito de 45” mostra um processo histórico de longa duração, o que permite ao espectador observar as contradições e a reversibilidade históricas, provocando ainda a esperança com o ciclo presente na repetição da imagem das pessoas dançando em 1945 no final. Assim, o processo descrito não tem início nem fim, mas construiu determinadas práticas de mudança social que podem se repetir em outros momentos a partir das pessoas mais simples, cuja memória Ken Loach busca resgatar enquanto contrainformação e ação política.
O debate da aula "Movimentos indígenas" se centrou nas seguintes questões:
identidade, línguas, autodeclaração indígena e mudança nos critérios do IBGE;
o aumento no interesse das grandes empresas farmacêuticas e de cosméticos nas terras indígenas e no patenteamento de produtos locais com o PL 7735/14;
o discurso da suposta concentração de terras pelos indígenas, apesar das Terras Indígenas ocuparem apenas 12% do território nacional;
o não reconhecimento da existência dos povos indígenas com o discurso das “terras vazias”, da fronteira e da produtividade;
a mudança na percepção social do papel dos antropólogos, cada vez mais negativa na medida em que laudos comprovam a ocupação indígena e produzem memória (inclusive pela Comissão Nacional da Verdade);
o direito de se recorrer aos laudos na Justiça a partir do Decreto 1.775/96 e os contra-laudos encomendados pelos fazendeiros e contestados pela Associação Brasileira de Antropologia; -o papel das instituições de ensino na formação de antropólogos anti-indígenas, por um lado, e do potencial transformador das cotas, por outro lado, que possibilitam o acesso de indígenas ao ensino superior, até recentemente restrito aos ruralistas;
a Constituição Brasileira de 1988 como marco da autonomia indígena, mas empregada como marco temporal no sentido contrário aos seus direitos;
a ofensiva da PEC 215, que transfere a demarcação de terras indígenas para o Congresso Nacional;
necessidade de maior divulgação da questão indígena nas mídias sociais, escolas e universidades para combater preconceitos e estereótipos;
classificações dos movimentos sociais tem por finalidade o reconhecimento pelo Estado;
embates internos ao Estado (Supremo Tribunal Federal, Ministério Público Federal etc.).
O debate no seminário "Movimentos negros" se centrou nas seguintes questões:
o lugar de fala, a categoria de experiência e o reconhecimento do privilégio branco na produção de pesquisas científicas;
o imbricamento entre produção do saber e relações de poder, o racismo institucional nas universidades, a importância política eepistemológica da fala de militantes externos ao eixo Rio-São Paulo;
o conceito de visibilidade e a invisibilização, reproduzida nos conselhos, de determinadas etnias;
o problema da ideia de cooptação por não captar a ambiguidade da relação entre Estado e movimentos sociais, a produção e o apagamento de seus limites, as cobranças entre militantes que ocupam cargos de gestão e os que não ocupam;
a “estatização” dos movimentos (expertise para participar, aquisição de tecnologias);
a homologia entre a posição dos intelectuais no campo do poder e dos movimentos sociais no campo social;
a problematização do que é participação e das classificações dos movimentos sociais;
as diferentes categorias de Estado e de poder;
a falta de consenso entre militantes acerca do uso de plural ao se falar em movimento(s) negro(s);
as limitações da representação e da relação entre lideranças e a “base".
O debate da aula "Movimentos urbanos", que foi realizado no Dia Nacional de Manifestações e Paralisações organizado por movimentos populares e sindicais, se centrou nos seguintes temas:
a especulação imobiliária, inflação e o aumento de pessoas sem teto;
a impossibilidade de que se reduza o déficit habitacional somente através de políticas como o Minha Casa Minha Vida (MCMV);
a necessidade de desapropriação e de combater as causas da gentrificação;
os empecilhos na divulgação dos dados referentes ao déficit habitacional;
a ambiguidade do modelo atual de governo, entre o aumento do investimento público e da participação de movimentos sociais e a simbiose com o mercado (financiamento de campanhas, dívida pública, mercantilização de políticas habitacionais);
a não participação em conselhos, mas o reconhecimento desses espaços por movimentos como o MTST.
a ação direta como forma de pressão para que espaços de participação funcionem;
as particularidades das relações entre movimentos urbanos e o Executivo, Legislativo e Judiciário.
a necessidade de maior interlocução entre os âmbitos e poderes estatais;
a lógica da representação das bases na atuação dos militantes enquanto estratégia de visibilidade;
as transversalidades e diálogos entre velhos e novos movimentos sociais;
a política pública no papel e na prática e a necessidade de se considerar particularidades locais (Morar Carioca, MCMV);
as dificuldades analíticas da classificação dicotômica rural/urbano presente nas políticas públicas e legislação.