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Trabalhadores rurais

O dossiê "Trabalhadores rurais" contém vídeos da mesa homônima composta pelos sindicalistas José Rodrigues Sobrinho (CUT e Fetarn), Francisco Urbano de Araújo Filho (Contag) e José Francisco da Silva (Contag), a advogada Angélica Gentili (ex-assessora jurídica da Contag) e Josefa Reis (técnica do Incra e ex-assessora da Contag). A mesa discutiu a continuidade das lutas camponesas no Brasil após o golpe de 1964 e o seu significado histórico.

Abertura

O dossiê "Abertura" é constituído por vídeos da mesa de abertura, composta por José Sérgio Leite Lopes (PPGAS/UFRJ), Daniel Aarão Reis (UFF) e Geraldo Cândido (Comissão Estadual da Verdade/RJ). José Sérgio Leite Lopes apresentou o sentido do evento, expondo o interesse de uma reflexão mais profunda sobre os projetos coletivos interrompidos pelo golpe militar (1964) no Brasil, mais especificamente no que tocou à universidade, os trabalhadores e os povos indígenas. Daniel Aarão Reis aponta os nós fundamentais que ainda permanecem nos debates sobre o golpe militar: a participação civil, as ambiguidades de alguns atores sociais em relação ao regime, as polêmicas em torno do tema da transição democrática e os legados da ditadura. Geraldo Cândido oferece uma perspectiva dos trabalhadores sobre a repressão, a organização sindical e o movimento popular do período, e sugere diálogos entre aquele momento e o tempo presente.

José Sérgio Leite Lopes

José Sérgio Leite Lopes (CBAE/UFRJ) expõe o interesse a respeito de uma reflexão mais profunda sobre os projetos coletivos interrompidos pelo golpe militar, interesse esse, que deu origem ao seminário. No que toca a Universidade brasileira, a conjuntura da década de 1960 expunha a urgência de uma reforma universitária que fosse capaz de democratizar e popularizar a Universidade no país. Outra dimensão fundamental discutida no seminário foi a repressão mais difusa, e por isso mesmo menos conhecida, da repressão dos trabalhadores rurais. Fechamento de sindicatos, intervenções, morte de trabalhadores, um conjunto diversificado de estratégias levadas a cabo pela ditadura militar em um contexto de forte ascensão da mobilização política no campo, com a emergência da Contag, a força do sindicalismo rural e de uma série de outras mobilizações que questionaram a estrutura de poder do latifúndio no Brasil. Por último, a atividade pretendeu também discutir o impacto da repressão junto aos povos indígenas e, sobretudo, os aspectos de permanência da violência do Estado contra estes povos em toda a história do país.

Daniel Aarão Reis

Daniel Aarão Reis (UFF) levanta o que para ele são os nós fundamentais que ainda permanecem nos debates sobre o golpe militar. O primeiro deles, a participação civil tanto no golpe como na sustentação do regime. Em segundo lugar, as ambiguidades de alguns atores sociais (lideranças políticas e instituições importantes) em relação ao regime. Um terceiro debate ainda em curso se refere às polêmicas em torno do tema da “transição democrática”. Por último, o historiador desenvolveu o tema dos “legados” da ditadura militar e sua relação com o presente e a democracia.

Geraldo Cândido

Geraldo Cândido, da Comissão Estadual da Verdade/RJ, inicia sua exposição enfatizando o que foi para ele uma das dimensões chaves na explicação do desencadeamento do Golpe Militar no Brasil, qual seja, a figura de João Goulart. Para Geraldo Cândido, a liderança de João Goulart como uma expressão popular e representação do trabalhismo, expressava naquele momento uma das principais forças da imaginação política nacional. Geraldo Cândido salienta que a expressão de Jango provocou um grande incômodo nas forças conservadoras do país, especialmente porque sua ascensão eratambém a ascensão de uma cultura política produzida por trabalhadores e seus anseios de transformação. Nessa conjuntura, o palestrante recupera todo o “clima” de mobilização protagonizado pelos trabalhadores, rurais e urbanos, que antecedeu o Golpe Militar: desde as Revoltas dos Marinheiros no sindicato dos Metalúrgicos até o grande comício da Central do Brasil. É para recuperar o protagonismo da classe trabalhadora nesse contexto de efervescência política que vivia o Brasil e também na importante resistência por ela produzida nos “anos de chumbo”, que Geraldo Cândido enfatiza a relevância de ampliarmos as pesquisas e divulgação do período entre 1964 e 1968, período este de menor relevância para a historiografia da ditadura, mas que expressa, segundo ele, os modos pelos quais os sindicatos e os trabalhadores representaram o grupo social mais diretamente atingido pelo Golpe Militar.

Angélica Gentili

A ex-assessora jurídica da Contag Angélica Gentili faz um relato sobre as estratégias usadas por ela e por outros assessores do movimento sindical e popular, durante o regime militar. Esses advogados constituíram uma espécie de rede para defender no Judiciário e na luta política os direitos dos trabalhadores e o funcionamento das entidades, desafiando os limites impostos pela ditadura. Entre as formas de luta das quais lançavam mão naquele contexto estavam as ações coletivas, por meio das quais buscavam o cumprimento dos direitos estabelecidos por lei (tais como Estatuto da Terra e o Estatuto do Trabalhador Rural), que eram, entretanto, desrespeitados pelos patrões.

Josefa Reis

Josefa Reis, ex-assessora da Contag e atualmente técnica do Incra, destaca alguns momentos da luta das entidades dos trabalhadores rurais durante a ditadura militar, especialmente entre o final dos anos 1970 e o processo da Constituinte de 1988, analisando também a atuação das mulheres nos movimentos. Em sua exposição, ela ressalta que a legislação a partir da qual as entidades buscavam proteger os trabalhadores rurais no período do regime militar havia sido concebida antes do golpe de 1964, como foi o caso do Estatuto da Terra.

José Francisco da Silva

O dirigente sindical José Francisco da Silva, ex-presidente da Contag entre 1968 e 1984, destacou a luta para organizar os trabalhadores do campo depois do golpe militar de 1964, quando os sindicatos estavam sob intervenção e os líderes camponeses estavam permanentemente sujeitos à violência por parte dos militares, dos senhores de engenho ou de usineiros, latifundiários e seus capangas. No nordeste do país, uma das estratégias adotadas pelo movimento foi a criação das delegacias sindicais. José Francisco relatou o encontro que teve com o Papa Paulo VI, em 1969, em Roma, quando entregou ao Sumo Sacerdote uma carta na qual denunciava a realidade brasileira sob o regime de exceção e solicitava o apoio da Igreja para a reconstituição democrática do país. Ele explica que a audiência com o Papa foi estratégica no sentido de evidenciar ao governo brasileiro que a Contag não estava isolada ou sozinha em suas lutas. De acordo com o sindicalista, na época da ditadura e sob a intensa perseguição aos trabalhadores e militantes, havia dois guarda-chuvas para as esquerdas: a Contag e a Igreja Católica. José Francisco ressaltou ainda a importância das mobilizações dos camponeses e de outros setores da sociedade para a retomada do processo democrático.

Francisco Urbano de Araújo Filho

O dirigente sindical Francisco Urbano de Araújo Filho, ex-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), analisa a relação entre o golpe militar de 1964 e construção da organização dos trabalhadores rurais no país. Segundo ele, o golpe foi desfechado para interromper a Reforma Agrária incipiente conduzida pelo governo João Goulart, dentro das Reformas de Base. Ele apresenta aspectos da trajetória das organizações do campo, destacando ainda o papel da Igreja Católica nas mobilizações em defesa dos direitos dos trabalhadores e da democracia no país.

José Rodrigues Sobrinho

O dirigente sindical José Rodrigues Sobrinho, um dos fundadores da Contag e da CUT, relata alguns aspectos de sua própria trajetória no movimento dos trabalhadores rurais, inicialmente no Rio Grande do Norte, e depois em contexto nacional e internacional, concomitantemente à criação dos sindicatos de trabalhadores rurais, das federações e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Ele destaca as formas de mobilização dos trabalhadores rurais para enfrentar a dominação e a repressão dos patrões e do Estado, em um contexto em que ele próprio foi perseguido e exilado durante o regime militar.

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